quarta-feira, 15 de maio de 2013

As pessoas dizem cada uma!


Porque eu sigo Neil Gaiman no Twitter e no Goodreads fiquei sabendo da existência da Jen Campbell, escritora britânica que trabalha numa livraria em Highgate,  norte de Londres.  Eu adoro ler o blogue dela www.jen-campbell.blogspot.co.uk que começou como uma maneira de relatar seu dia-a-dia nada pacato na livraria.

Jen trabalha aqui.

 Jen já publicou várias poesias, contos curtos e acabou de lançar o segundo livro “More Weird Things Customers Say in Book Shops” (Mais Coisas estranhas que os clientes dizem em livrarias).


Numa das vezes em que eu passeava pelo blogue dela, fiquei sabendo que ela viria para esses lados do rio Tâmisa autografar e falar sobre o livro novo. Ela estava vindo bem aqui pertinho, na The Village Book Shop, em Dulwich. Que sorte a minha! Poder ir bater papo com uma escritora que eu gosto numa livraria independente e toda charmosinha num bairro ainda mais charmoso! Eu iria perder essa??? Claro que não!
Pois na quinta-feira passada a tardinha, lé estava eu com meu livro debaixo do braço, sentada na primeira fila. 

Essa é a The Village Books, em Dulwich.



O encontro foi super informal e aconchegante. Jen é uma fofa. Ela começou contando como veio para Londres depois de se formar em literatura inglesa, do seu trabalho como escritora e do trabalho meio turno na livraria. Assim como eu, Jen tem uma adoração enorme por livros e sente-se super feliz mergulhada neles ao redor deles.

A autora, Jen Campbell, com o primeiro livro "Coisas Estranhas que os Clientes Dizem em Livrarias"

Ela contou que quando começou a trabalhar na livraria, ouvia coisas muito engraçadas e também bizarras de alguns clientes e chegava a se questionar “será que aconteceu mesmo? Será que eu entendi bem? Não pode ser!”. Para manter a sanidade, começou a relatar os episódios no blogue, o que foi ótimo pois muitas outras pessoas que também trabalhavam em livrarias e bibliotecas, identificando-se com seus relatos,  partilharam suas próprias experiências estranhas. Ufa, não era só com ela!

Abaixo, uns trechinhos do livro (tradução minha). Jen jura que é tudo verdade, pessoas reais disseram essas coisas:

Cliente: Você pode me recomendar um livro de magia para ressucitar bichos de estimação?
Atendente: ...
Cliente: Apenas animais, entende – pessoas não! Eu não quero que o meu marido ressucite.

Cliente: Onde posso encontrar um livro sobre William Shakespeare?
Atendente: Provavelmente na sessão de biografias. Eu dou uma olhada pra você.
Cliente: Mas não seria em ficcão? Quero dizer, não é que ele tivesse sido uma pessoa real, não é?

Cliente: Você tem algum livro em como fundar países? Eu quero saber se é possivel declarar meu jardim nos fundos de casa como uma nação separada.

Cliente: Estou procurando aquele livro... Romeu e Julieta. É sobre uma briga entre os DiCaprios e outra gangue. Coisas de gangues de rua.
Amigo do cliente: É. É a história verdadeira do Leonardo DiCaprio.

Cliente: Hoje a noite, no nosso grupo religioso, faremos uma fogueira para queimar livros. Quero todos os seus livros sobre bruxaria.
Atendente: ...
Cliente: Ah! E como não vamos ler os livros, então espero que você me dê um desconto. Estamos fazendo um favor ao mundo queimando esses livros, entende?

Cliente: Eu não gosto de biografias. A personagem principal sempre morre no fim. Tão previsível!

Cliente: Onde estão os seus livros sobre guerra?
Atendente: Na sessão de história. Nossa sessão de história é dividida entre história Britânica, Européia, Americana e história do Mundo. Livros sobre qual guerra você está procurando?
Cliente: Eu queria um livro sobre a história da guerra entre os vampiros e lobisomens.
Atendente: ...
Cliente: Onde eu posso encontrar tais livros?

Cliente: Você tem algum livro de Natal sobre aquele bebê famoso?

Tem uma montanha de situações assim. É super engraçado. E muito triste ao mesmo tempo porque enquanto Jen e o pessoal no encontro eram super politicamente corretos (como todo inglês), tudo o que eu pensava era “mas que gente mais ignorante!” Como tem gente pá da cabeça. Tragicômico.

Mas nem tudo é bizarrice e Jen também narra situações legais sendo as mais fofas com crianças. Criança diz cada uma! Aqui vai uma das minhas preferidas:

Criança: Mamãe, quem foi o Hitler?
Mãe: Hitler?
Criança: Sim. Quem foi ele?
Mãe: Erm... ele foi um homem malvado que existiu há muito tempo atrás.
Criança: Ah... Malvado como?
Mãe: Ela era como... como o Voldemort!
Criança: Uau! Então ele era muito malvado mesmo!
Mãe: Sim, era.
Criança: (pausa) Então, o Harry Potter matou ele também?

Que pena que eu esqueci totalmente de tirar fotografias do evento. As que eu coloquei aqui, com exeção dessa aí embaixo, catei na internet.

Esse é o meu livro autografado



quinta-feira, 2 de maio de 2013

Além da base e do rímel - um evento French Chic


Não sei se já comentei antes e quem me conhece sabe: eu não sei me maquiar. Consigo tacar uma base, um rímel e um gloss ou batom natural. Na verdade nem sei porque perco meu tempo com gloss ou batom porque não dura nada na minha boca, eu atravesso a rua e já não tem mais nada. Eu sou atrapalhada, sabe? Além do que, esse negócio de perder tempo na frente do espelho aplicando e removendo maquiagem não é comigo. Sou daquelas que acorda de manhã,  passa uma água no rosto e pronto, nem escova o meu cabelo precisa (viva a escova progressiva. Tô sempre correndo, sou desorganizada e preciso que os dias tenham mais horas para eu poder fazer tudo o que preciso.

Mas acho o máximo quem sabe usar maquiagem. Acho lindo mesmo e as poucas vezes que deixei me maquiarem até cogitei tentar aprender. Quem me deixava lindona era a Rachel, ô bichinho que sabe fazer arte no rosto! Mas ela fugiu pra Suécia...

Então, quando a minha amiga norueguesa Cat sugeriu que contratássemos a Letícia e a Carole para uma noitada French Chic eu topei no ato. Melhor eu explicar.

A Letícia e a Carole são francesas, a Letícia é make-up artist da Max Factor e a Carole é personal stylist (consultora de imagem). As duas são sócias e oferecem seus serviços para pequenos grupos. Elas ensinam a aplicar maquiagem e dão dicas de como usar e jogar roupas e acessórios. Funciona assim: um grupo de no máximo 6 pessoas se reúne na casa de uma das aprendizes. No nosso caso, o evento aconteceu na casa da Cat, regado a vinho e petiscos. Sentadas ao redor da mesa com toda a parafernália que iremos utilizar na nossa frente (espelho, desmaquilante, tonalizante, hidratante, maquiagem, algodão, etc, etc, etc), a Letícia, usando a Carole como modelo, vai mostrando e explicando passo a passo o que fazer.  O grupo vai copiando no próprio rosto.

Elas vão explicando tudinho e até deram uma paradinha aqui e ali para me ajudar as mais atrapalhadas. Depois da maquiagem, a Carole fala sobre o que ela faz como consultora de imagem e dá uns exemplos de como jogar peças de roupa. Muito bacana o que ela mostrou mas como ela tem um corpinho de miss e bom gosto, ela fica bem até vestida com um saco de lixo. Dá pra contratar a Carole para organizar o guarda-roupa ou ir comprar roupas. Ela descobre maneiras diferentes de usar as peças de roupa que nem sabíamos que tínhamos.  Mas eu acho que nesse departamento de se vestir eu não tenho muitos problemas.  Também confesso que não me sentiria muito confortável com alguém fuçando no meu armário. Sei lá.

Realmente foi uma noite super agradável e divertida, adorei e recomendo. Nós tínhamos pedido uma aula básica, os princípios da maquiagem. Foi tão legal que estamos pensando em organizar outra noite French Chic, desta vez para aprender a esconder ou acentuar traços.

 E olha aqui embaixo o resultado do antes e depois:


Agora eu preciso de uma aula de como posar para fotografia. Tô sempre fazendo careta, que tristeza!

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Relato da Maratona de Paris - 7 de abril 2013


Fui para Paris de Eurostar com outras 19 pessoas do meu clube de corrida. Enquanto 9 correram a maratona, as outras  11 foram como torcida de apoio. É bacana você ouvir os amigos gritando o seu nome e encororajando ao longo do percurso, principalmente quando tudo o que se quer é desistir, que a tortura termine de uma vez.


Sexta-feira - 5 de abril

Chegamos em Paris no meio da tarde e fomos direto ao hotel. O hotel era bem bonzinho, tudo limpinho e bem localizado. Depois de fazer check in e largar as bagagens fomos até o centro de exposição da maratona para entregar o exame médico, pegar os números e a sacolinha dos brindezinhos bestas e dar um olhada na exposição.



A noite, tínhamos reserva numa brasserie perto do hotel. Fazendo parte de um grupo de 20 pessoas, todos corredores onde 9 iriam correr uma maratona no domingo, você teria certeza que vinho e cerveja estariam fora dos pedidos, não? Ha! Tudo começa com "só um cálice" aqui, "só uma cervejinha, afinal, estamos em Paris" ali e pimba! Somos os últimos a deixar o restaurante, alegres e contentes e com o cérebro nadando em vinho e cerveja.


Sábado - 6 de abril

No dia seguinte... um grupo de corredores perambulando por Paris, sendo uns com mais e outros com menos ressaca. O dia estava lindo e só porque passamos bem em frente, resolvemos dar uma paradinha no Les Deux Magots, o tal café que Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir costumavam frequentar. Sempre tinha ouvido falar que garçon francês é super grosseiro e estava convicta que era difamação pois em todas as vezes que estive na França nunca tinha sofrido nas mãos de nenhum garçon mal educado. Tolinha, fui finalmente batizada no café Les Deux Magots. Pensei que o garçon fosse nos bater quando pedimos uma mesa. Juro que me deu medo. Deu também uma vontade malvada de dar uma de inglesa e pedir água da torneira, mesmo que não fosse beber. Mas acabei pedindo uma diet coke quase debaixo da mesa de tão encolhida. Por sinal, foi a diet coke mais cara que paguei na vida, 7 euros e 30 centavos por uma garrafinha! Não, não vi nada demais no Les Deux Margots. 




Atravessamos o rio Sena, continuamos perambulando e não pude resistir, tive que comer um crepe de nutella com banana. Como eu gosto de crepe em Paris!

A noite conseguimos encontrar um restaurante italiano onde fomos cedinho nos entupir com mais carboidratos - sem álcool para mim dessa vez - e retornamos ao hotel, afinal, amanhã seria o grande dia.




Domingo - 7 de abril - Maratona

Acordamos cedinho e depois do café da manhã pegamos o metrô lotadinho com outros tantos corredores que também se dirigiam ao Arco do Triunfo, onde era a largada ( e final ) da maratona. Um mundaréo de gente.



Um dia lindo de sol apesar de estar ainda friozinho por ser muito cedo. Filas imensas para os cubículos espalhados pela área. Tive que encarar a fila porque a minha bexiga sempre resolve se fazer presente antes de uma corrida, muito chata. Uma eternidade depois, finalmente chegou a minha vez. Não sei da onde o corpo consegue produzir tanto xixi.

Me dirigi para a largada que aconteceu na hora prevista mas era tanta, mas tanta, mas tanta gente que cruzei o ponto de partida uma hora depois. Sim, eu estava lá no fundão, não vejo porque me meter lá na frente quando corro a lá pangaré e principalmente quando tem chip para controlar o tempo do ponto de partida ao ponto de chegada.



E adivinha quem resolveu dar o ar da sua graça logo na saída? A chata da bexiga! Adivinha se agora haviam cubículos espalhados? Claro que não. Vi um montão de corredores fazendo xixi nas esquinas. Homens, claro. O processo é bem mais complicado para nós mulheres e uma mera esquina não é o suficiente. Comecei um mantra mental “isso é emocional, tu não precisa fazer xixi, já descarregou um galão há pouco tempo, segue”. Mas a chata da vontade era insistente, não me largava.
Menos de 10 quilômetros depois e estávamos passando por um parque. As moitas estavam ressecadas e não tinha como se esconder totalmente mas não pude evitar. Me enfiei na melhor moita que eu encontrei (um bando de corredores fazendo a mesmíssima coisa) abaxei as calças e fechei os olhos. Se eu não posso ver os outros, os outros não podem me ver também. Então, protegida por uma semi moita ressecada, com meu amplo bundão de fora, de olhos fechados e rezando para ninguém chegar muito perto, descarreguei 2 galões de xixi.

De volta ao percurso, me senti aliviada e mais leve. Retornei ao meu trotezinho, tudo o que eu queria era completar a maratona.

A cada 5 quilômetros nos ofereciam água, laranja, banana, cubinhos de açúcar e uvas passas. Eu me atracava nos gomos de laranja. Meu corpo pede laranja quando eu corro, eu adoro corrida que oferece gomos de laranja. Só por isso eu resolvi que a maratona de Paris era a melhor do mundo.

Tudo foi indo muito bem, meu passo era consistente, me sentia ok. Nem me lembro em que altura passei pelos nossos torcedores que foram uns fofos gritando meu nome. Teve um, o Richard que saiu correndo atrás de mim e até tascou um beijo! E eu me sentia bem!!! Só que essa foi a minha terceira maratona, eu sei que de repente tudo muda. Foi lá pelo quilômetro 30 que eu comecei a sofrer. O corpo dói, as pernas dóem, tudo dói. Aí tem que ficar o tempo todo mandando embora aquela vozinha maquiavélica que tenta te convencer que tu não vai conseguir e que tá tudo errado. Tem que ficar se convencendo que vai dar sim, que é apenas mais 1 hora e poucos, já correu tudo isso, corre mais um pouco e etc, etc, etc.

Eu pensava no Rafa. Já pensou a cara de decepção se a mãe dele não completa a maratona, não leva uma medalha pra casa? Não, eu tinha que seguir em frente nem que tivesse que me arrastar. Lá pelo quilômetro 33 eu não conseguia mais correr. Mal caminhar. Me sentia a moura torta. Um brucutu destemido. Sério. “Caminhei” por 5 quilômetros. Não vi nada, não vi paisagem, nem tirei foto. Até meus dedos doíam! Eu só conseguia olhar para o chão já que levantar o pescoço doía também. No quilômetro 38 voltei a “correr”. Faltava muito pouco agora.
42.16 quilômetros depois e cruzo a linha de chegada. Que alívio! E não fui a última, não. Uma enxurrada atrás de mim.

De volta ao hotel, tomei um longo banho e, enquanto meus amigos faziam happy hour, fui dormir. Corridas sempre me dão vontade de dormir depois.
Nos encontramos no mesmo restaurante da sexta-feira para jantar. Comi um filezão maravilhoso e bem ensanguentado com batatas sautée. Divino. Entre uma garfada e outra, planejávamos onde seria a próxima maratona.





Segunda-feira – 8 de abril

Hora de voltar pra casa. Pernas doloridas da corrida e gargantas roucas da torcida. Chegamos em Londres às 3 da tarde.

Dei minha medalha para o Rafa.

Adorei a maratona de Paris. Não é tão alegre e festiva como a de Londres, mas bem legal. Eu sou um zero a esquerda como corredora mas sei lá porque tenho essa fixação com maratonas. Ano que vem quero correr outra.